segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Réplica de fuzil na bagagem coloca em xeque segurança nos aeroportos

O Fantástico testou a segurança dos principais aeroportos do Brasil. Nossos repórteres embarcaram com uma réplica de um fuzil dentro de uma mala de viagem e não foi parado pela fiscalização. As cidades escolhidas vão sediar a Copa do Mundo em 2014. A réplica pesava dois quilos e meio e ninguém viu nada. É assustador.

O repórter do Fantástico, Eduardo Faustini, embarcou tranquilamente em nove aeroportos despachando a mala ou levando-a na mão com a réplica do fuzil dentro. Tudo isso entre o Natal e o Ano Novo, época de muito movimento. A reportagem deixou claro que hoje os aeroportos têm uma segurança bastante precária. Vamos ter Copa em 2014 e Olimpíada em 2016. Aí fica a pergunta: o Brasil está preparado?

Pouso e decolagem em nove aeroportos. Doze mil quilômetros percorridos pelo repórter Eduardo Faustini com uma peça na bagagem: uma escultura de aço encomendada pelo Fantástico que reproduz um fuzil AR-15, arma com alto poder de destruição muito usada pelos traficantes do Rio de Janeiro e pelas forças especiais dos Estados Unidos no Afeganistão. Mas a réplica não atira.

“É totalmente uma obra de arte, porque ela só está conservando a silhueta original, mas o resto das partes está bem claro que tem as soldas bem em evidência para mostrar que não tem nada a ver com uma arma original. Procuramos também não deixar o furo do cano, que uma coisa que identifica muito a arma. Não tem furo”, afirma o escultor Pedro César Almeida Santos.

O objeto é colocado dentro da mala, junto com um quilo de açúcar para simular cocaína e R$ 100 mil em dinheiro cenográfico, aquele usado em novelas. Pela lei, os passageiros não podem viajar de avião com mais de R$ 10 mil sem declarar às autoridades.

No Aeroporto Internacional de Guarulhos, em São Paulo, o repórter embarca para Curitiba e despacha a mala apenas com um lacre. Dá para ver a mala, que carrega a réplica do fuzil, o açúcar e as notas pouco antes de a mala ser guardada no porão do avião. No Aeroporto de Curitiba, a mala chega lacrada do mesmo jeito. Da capital paranaense, o repórter segue para Belo Horizonte. Despacha a mala sem problemas.

Agora, em Fortaleza, a mala aparece na esteira e está tudo lá dentro, inclusive a réplica do fuzil. Para deixar Fortaleza, a bagagem é despachada novamente, desta vez rumo ao Aeroporto Internacional do Rio de Janeiro. Mais uma viagem: Rio-Brasília, ida e volta.

A essa altura, já foram seis aeroportos internacionais. O repórter, então, viaja para Congonhas, em São Paulo, e de lá pega uma ponte aérea para o Aeroporto Santos Dumont, no Rio. Mais uma vez, o conteúdo da mala não é detectado. A explicação, segundo a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), é que, se o voo não é internacional, não há obrigação de passar as bagagens despachadas pelo raio-x.

Para saber o que aconteceria, se os aparelhos de raio-x fossem usados na bagagem despachada, a mala foi levada a uma empresa de segurança especializada. A máquina detecta um objeto com bastante metal e mostra a silhueta de um fuzil.

“O que é azul é a parte metálica dos objetos que estão dentro da máquina. Tudo que é azul é metal. A gente pode ver bem nítido o contorno de uma arma”, aponta o engenheiro Eduardo Brito.

O repórter ainda faz mais um teste. Em Juiz de Fora, Minas Gerais, coloca a réplica do fuzil em uma bolsa para levar como bagagem de mão dentro da aeronave. Ele passa pelo detector de metais, mas a bolsa não, porque lá não há equipamento de raio-x para bagagem de mão. Mas a bolsa chega a ser revistada pela funcionária do aeroporto, que não percebe o objeto e deixa o repórter embarcar tranquilamente.

No voo, o repórter mostra o objeto que não foi detectado. Ao chegar a Guarulhos, São Paulo, percorre a pista de aviões e passa por toda a parte interna do aeroporto carregando a réplica do fuzil. De lá, segue para o Aeroporto de Congonhas, pega outro voo para o Rio de Janeiro, despachando a bagagem e termina a viagem sem nenhum problema.

Das nove cidades percorridas, seis vão sediar os jogos da Copa do Mundo em 2014. No Mundial, um grande volume de passageiros vai circular dentro do país, o que só aumenta a preocupação com a segurança.
“Eu acredito que até a Copa do Mundo, se não houver uma modificação, e até as Olimpíadas, nós teremos um caos em termos de segurança”, afirma Francisco Carlos Calixto, representante da Federação Nacional dos Policiais Federais.

Em nota, a Infraero, empresa que cuida da infraestrutura dos principais aeroportos brasileiros, disse que apenas parte da bagagem despachada nos voos domésticos passa pelo raio-x e que vai comprar mais aparelhos. Informou também que a responsabilidade sobre a inspeção das bagagens é das companhias aéreas e que estas, se encontrarem algum objeto suspeito nas malas despachadas, devem acionar a Polícia Federal. Procurada pelo Fantástico, a Polícia Federal não quis comentar o assunto.

A Agência Nacional de Aviação Civil, que regula o setor, afirmou em nota que, segundo as normas internacionais, não existe a obrigação de passar todas as bagagens pelo raio-x quando o voo é doméstico, dentro do país.

FONTE: Bom Dia Brasil

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